Capítulo 14 - Isso vai ensinar você a não ficar pesquisando nomes no google quando deveria estar estudando

26-02-2012 07:56

 

Durante seu período livre, na quinta-feira, Spencer foi à sala de estudos do Rosewood Day. Com seus arquivos de fichas de livros, que iam até o teto, um globo gigante num pedestal em um canto, e um vitral na parede mais afastada, a sala era seu lugar favorito no campus. Ela ficava no meio da sala vazia, fechava os olhos e inspirava aquele cheiro de livros antigos com capa de couro.

Tudo tinha ido bem naquele dia: o frio pouco habitual para aquela época do ano, que permitira que ela vestisse seu casaco Marc Jacobs de lã azul-clara, novinho; o barista da cafeteria de Rosewood Day fizera um doble skim latte perfeito para ela; havia tirado nota máxima em um exame oral de francês; e naquela noite ela iria se mudar para o celeiro, enquanto Melissa teria que dormir em seu velho quarto apertado.

Apesar disso tudo, havia uma nuvem de preocupação sobre ela. Era uma junção entre um certo aborrecimento que sentia quando esquecia de fazer alguma coisa e a sensação de que alguém estava... bem, a estava observando. Era óbvio por que estava se sentindo tão para baixo: aquele e-mail esquisito sobre "inveja". A visão do cabelo de Ali na janela do antigo quarto dela. O fato de que só Ali sabia sobre Ian...

Tentando afastar esses pensamentos, ela se acomodou na frente de um computador, puxou o elástico de sua meias Wolford azul-marinho estampadas e se conectou à internet. Começou a fazer pesquisa para um trabalho de biologia, mas depois de dar uma olhada nos resultados do Google resolveu digitar Wren Kim na barra de pesquisa.

Ao ver os resultados, ela segurou o riso. Em um site chamado Mill Hill School, Londres, havia uma foto de um Wren, de cabelos longos, de pé ao lado de um bico de Bunsen e um monte de tubos de ensaio. Outro link levava para o portal dos estudantes do Corpus Christi College e da Universidade de Oxford. Lá havia uma foto de Wren, muito lindo numa roupa shakespeariana, segurando uma caveira. Ela não sabia que Wren fazia teatro. Enquanto tentava dar zoom na foto para dar uma olhada melhor nas coxas dele, alguém deu um tapinha em seu ombro.

— Esse é o seu namorado?

Spencer deu um pulo, derrubando no chão seu celular Sidekick, incrustado de cristais. Andrew Campbell sorriu, sem jeito, atrás dela.

Ela minimizou a tela rapidinho.

— Claro que não!

Andrew se abaixou para pegar o Sidekick dela no chão, tirando do olho uma mecha do seu cabelo liso e comprido, que ia até o ombro. Spencer reparou que ele tinha mesmo uma boa chance de ser bonitinho, se cortasse aquela juba.

— Opa. — Ele estendeu o Sidekick de volta para ela. — Acho que uns cristaizinhos se desprenderam.

Spencer pegou o telefone da mão dele.

—Você me assustou.

— Desculpe.—Andrew sorriu. — Então, seu namorado é ator?

—Já disse que ele não é meu namorado!

Andrew recuou.

— Desculpe. Só estava puxando assunto.

Spencer olhou para ele, com suspeita.

— De qualquer forma — continuou Andrew, ajeitando sua mochila North Face nos ombros —, eu estive pensando... você vai à festa do Noel amanhã? Posso te dar uma carona.

Spencer olhou para ele sem expressão e, então, se lembrou: a festa no jardim de Noel Kahn. Ela havia ido nos anos anteriores. Os meninos bebiam cerveja em funis, e quase todas as meninas traíam seus namorados. Naquele ano não seria diferente. E, sério? Andrew estava mesmo pensando que ela pegaria uma carona com ele em seu Mini? Será que eles, um dia, seriam compatíveis?

— Duvido muito — disse ela.

O sorriso de Andrew se desfez.

— Tudo bem, acho que você deve estar muito ocupada.

Spencer franziu as sobrancelhas.

— O que quer dizer?

Andrew deu de ombros.

— Bem, parece que tem uma porção de coisas acontecendo na sua vida. Sua irmã está em casa, não está?

Spencer encostou na cadeira e mordeu o lábio inferior.

— Sim, ela voltou para casa na noite passada. Como é que você sabe que...

Ela parou. Espera aí. Andrew dirigia seu Mini para cima e para baixo na rua dela o tempo todo. Ela o havia visto ontem mesmo, quando estava na frente da caixa de correio pegando os resultados dos testes...

Spencer engoliu em seco. Agora que pensava sobre isso, achava que podia ter visto o Mini preto por ali no dia em que ela e Wren estavam na banheira de hidromassagem. Ele devia dirigir por ali um bocado para notar que Melissa estava em casa. E se... e se fosse Andrew quem estivesse bisbilhotando a vida dela? E se ele tivesse escrito aquele e-mail aterrorizante sobre inveja? Andrew era tão competitivo que isso parecia possível. Mandar mensagens ameaçadoras era uma ótima forma de tirar alguém do jogo e tornar a reeleição para representante de classe no próximo ano mais fácil, ou... melhor ainda, de varrê-la da competição para orador da turma! E o cabelo comprido dele! Talvez tivesse sido ele quem Spencer vira na antiga janela de Ali. Inacreditável! Spencer olhou para a cara de Andrew, incrédula.

— Tem alguma coisa errada? — perguntou Andrew, parecendo preocupado.

— Preciso ir. — Ela pegou os livros e saiu da sala de estudos.

— Espera um pouco — gritou Andrew.

Spencer continuou andando. Mas quando empurrou as portas da biblioteca, se deu conta de que não sentia raiva. Claro, era muito estranho que Andrew estivesse espionando a vida dela, mas se Andrew fosse A, Spencer estava salva. Fosse o que fosse que Andrew pensasse que podia usar contra ela, não era nada... nada... comparado ao que Alison sabia.

Ela se dirigiu para a porta que dava para o pátio de escola, chegando lá junto com Emily Fields.

— Oi — disse . Um certo nervosismo passou por seu rosto.

— Oi — respondeu Spencer.

Emily ajeitou sua mochila Nike sobre os ombros. Spencer tirou a franja do rosto. Quando foi a última vez em que havia falado com Emily?

— Está esfriando, né? — perguntou Emily.

Spencer concordou.

—É.

Emily deu um sorriso eu-não-sei-o-que-dizer-a-você. Então, Tracy Reid, outra nadadora, pegou Emily pelo braço.

— Quando é que temos que trazer o dinheiro para os maiôs? — perguntou.

Enquanto Emily respondia, Spencer tirou uma sujeirinha invisível de seu blazer e cogitou se era obrigada a se despedir formalmente ou se podia simplesmente sair dali. Mas, então, algo no pulso de Emily chamou sua atenção. Emily estava usando sua pulseira azul, de fios, do sexto ano. Alison havia feito essas pulseiras para todas elas, logo depois que o acidente — A Coisa com Jenna — acontecera.

Inicialmente, elas só queriam atingir o irmão de Jenna, Toby. Era para ser uma travessura. Depois que as cinco planejaram tudo, Ali atravessou a rua para olhar pela janela da casa da árvore de Toby e, quando aconteceu, foi algo... horrível... para Jenna.

Depois que a ambulância saiu da casa de Jenna, Spencer descobriu algo sobre o acidente que nenhuma da outras garotas soube: Toby tinha visto Ali, mas Ali tinha visto Toby fazendo algo tão ruim quanto o que ela fizera. Ele não pôde delatá-la, porque senão ela o delataria também.

Pouco depois, Ali fez as pulseiras para todas elas, para que se lembrassem de que eram as melhores amigas umas das outras para sempre e que agora que dividiam um segredo como aquele, tinham que proteger umas às outras para sempre. Spencer esperava que Ali contasse às outras que alguém a tinha visto, mas ela nunca contou.

Quando os policiais fizeram perguntas a Spencer, depois do desaparecimento de Ali, umas das coisas que quiseram saber foi se Alison tinha inimigos, qualquer pessoa que a odiasse a ponto de querer machucá-la de verdade. Spencer disse que Ali era uma garota popular e que, como qualquer menina popular, sempre havia outras meninas que não gostavam dela, mas era apenas um ciúme bobo.

Isso, é claro, era uma mentira deslavada. Havia, sim, quem odiasse Ali, e Spencer sabia que deveria ter contado à polícia o que Ali lhe contara sobre A Coisa com Jenna... aquilo talvez fosse um motivo para que Toby quisesse machucá-la... mas como ela poderia contar aquilo sem explicar o porquê? Não havia um dia em que Spencer não passasse em frente à casa que fora de Toby e Jenna em sua rua. Mas eles haviam sido mandados para um colégio interno longe dali e quase nunca vinham para casa, então, ela achava que o segredo estava a salvo. E que elas estavam a salvo de Toby. E ela estava a salvo de algum dia ter que contar para suas amigas o que só ela sabia.

Quando Tracey Reid disse tchau, Emily se virou. Ela pareceu surpresa que Spencer ainda estivesse ali.

— Tenho que ir para a aula — explicou — Foi bom ver você.

— Tchau — respondeu Spencer, e ela e Emily trocaram um último sorriso sem graça.