Capítulo 10 - Garotas solteiras se divertem muito mais
Naquela tarde, Emily estava parada no estacionamento dos estudantes, perdida em seus pensamentos, quando alguém colocou as mãos sobre seus olhos. Emily deu um pulo, alerta.
— Opa, calma! Sou eu!
Emily se virou e suspirou de alívio. Era apenas Maya. Emily estava muito distraída e paranoica desde o dia anterior, quando recebera aquele recado esquisito. Ela ia trancar o carro — sua mãe deixara que ela e Carolyn o pegassem para ir à escola, com as condições de dirigir com muito cuidado e ligar quando chegassem — e pegar sua sacola de natação para o treino.
— Desculpe — disse Emily —, eu pensei que... ah, esquece.
— Senti sua falta hoje — Maya sorriu.
— Eu também — Emily sorriu de volta. Ela havia tentado ligar para Maya naquela manhã antes da escola, para oferecer uma carona, mas a mãe de Maya informou que ela já tinha saído.
— Então, como é que você está?
— Bem, eu poderia estar melhor. — Naquele dia Maya tinha deixado seu rosto livre, prendendo o cabelo escuro com adoráveis fivelas em formato de borboletas cor-de-rosa brilhantes
— Ah, é? — Emily inclinou a cabeça.
Maya apertou os lábios e deslizou um dos pés para fora da sandália Oakley. Seu segundo dedo do pé era maior que seu dedão, assim como o de Emily.
— Eu vou ficar melhor se você vier comigo para um lugar. Agora.
— Mas eu tenho natação — retrucou Emily, sabendo que soara como o Bisonho mais uma vez.
Maya pegou a mão de Emily e a balançou.
— E se eu contasse a você que o lugar para onde vamos meio que tem a ver com natação?
Emily franziu a testa.
— Como assim?
—Você tem que confiar em mim.
Apesar de ter sido bem próxima de Hanna, Spencer e Aria, as melhores lembranças de Emily eram de estar sozinha com Ali. Como quando vestiram enormes calças de neve para des-lizar de trenó pelo Bayberry Hill, conversaram sobre como seriam seus namorados ideais ou choraram por causa da Coisa com Jenna no sexto ano e consolaram uma à outra. Quando estavam só elas duas, Emily via uma Ali um pouquinho menos perfeita — o que, de alguma forma a fazia parecer ainda mais perfeita — e Emily sentia que podia ser ela mesma. Parecia que dias, semanas, anos haviam se passado desde que Emily pudera ser ela mesma pela última vez. E ela achava que, agora, poderia ter alguma coisa como aquela com Maya. Ela sentia falta de ter uma melhor amiga.
Nesse momento, Ben e todos os outros garotos provavelmente estavam trocando de roupa, batendo nas bundas uns dos outros com toalhas molhadas. A treinadora Lauren estaria anotando os exercícios do treino em sua lousa e trazendo as nadadeiras, boias e remos. E as meninas da equipe estariam reclamando que todas ficavam menstruadas ao mesmo tempo. Ela ousaria perder o segundo dia de treino?
Emily apertou seu chaveiro de peixinho na mão.
— Acho que posso dizer a Carolyn que tenho que dar aula particular de espanhol para alguém — murmurou. Emily sabia que Carolyn não acreditaria nisso, mas ela provavelmente também não a delataria.
Verificando mais de uma vez o estacionamento para ter certeza de que ninguém estava olhando, Emily sorriu e destrancou o carro.
— Tudo bem. Vamos lá.
— Meu irmão e eu demos uma olhada nesse lugar no final de semana — explicou Maya enquanto Emily dirigia para dentro do estacionamento de cascalho.
Emily saiu do carro e se alongou.
— Eu tinha me esquecido desse lugar.
Elas estavam na trilha de Marwyn, que tinha uns oito quilômetros de comprimento e era margeada por um riacho profundo. Ela e suas amigas costumavam andar de bicicleta por ali o tempo todo — Ali e Spencer pedalavam furiosamente até o final da trilha e quase sempre empatavam— e davam uma parada na pequena lanchonete perto da área onde era permitido nadar para comer chocolates Butterfingers com Cocas Diet.
Elas seguiram até um monte lamacento e Maya agarrou o braço de Emily:
—Ah! Esqueci de contar. Minha mãe disse que sua mãe deu uma passada lá ontem enquanto estávamos na escola e levou brownies.
— É mesmo? — respondeu Emily, confusa, perguntando-se por que sua mãe não mencionara nada para ela durante o jantar.
— Os brownies estavam deliciosos. Meu irmão e eu acabamos com eles ontem à noite!
Elas chegaram à trilha de terra cercada por uma enorme quantidade de carvalhos. O ar tinha um cheiro fresco e selvagem, e parecia uns cinco graus menos quente por ali.
— Nós ainda não chegamos. — Maya a pegou pela mão e a levou por um caminho que dava numa pequena ponte de pedra. Seis metros abaixo delas, a correnteza se alargava. A água tranquila brilhava ao sol do final da tarde.
Maya andou até a beirada da ponte e tirou a roupa, até ficar só de sutiã e com sua calcinha rosa-bebê. Ela fez uma pilha com suas roupas, mostrou a língua para Emily e pulou.
— Espere! — Emily correu até a beira da ponte. Será que Maya sabia como o riacho era fundo? Dois segundos depois, Emily ouviu um splash.
A cabeça de Maya apareceu, saindo de dentro d'água.
— Eu disse que tinha a ver com natação. Vai, tira a roupa!
Emily deu uma olhada para a pilha de roupas de Maya. Ela realmente detestava tirar a roupa na frente dos outros — mesmo na frente das meninas da equipe de natação, que a viam todos os dias. Devagarinho, ela tirou a saia de Rosewood, cruzando as pernas uma sobre a outra para que Maya não pudesse ver suas coxas musculosas e depois puxou a camiseta que usava debaixo da blusa do uniforme, mas decidiu ficar com ela. Emily olhou para além da beirada da ponte, criou coragem e pulou. Pouco depois, a água envolveu seu corpo. Estava deliciosamente morna e espessa por causa da lama, não fria e limpa como a da piscina. Seu sutiã inflou por causa da água.
— É como se fosse um banho termal — disse Maya.
— É mesmo. — Emily chapinhou até a parte mais rasa, onde Maya estava. Emily se deu conta que conseguia ver os bicos dos seios de Maya através do seu sutiã e desviou os olhos.
— Eu costumava mergulhar de penhascos com Justin o tempo todo quando estávamos na Califórnia — contou Maya. — Ele costumava ficar parado na beirada e, tipo, pensar sobre o pulo por uns dez minutos. Gostei de como você não hesitou nem por um segundo.
Emily ficou de costas e boiou, sorrindo. Ela não podia evitar: achou os elogios de Maya deliciosos como um cheesecake.
Maya respingou água em Emily com as mãos. Alguns respingos atingiram sua boca. A água do riacho era pegajosa e tinha um gosto quase metálico, nada parecido com a água cheia de cloro da piscina.
— Acho que Justin e eu vamos terminar — disse Maya.
Emily nadou para mais perto da beira e parou.
— É mesmo? Por quê?
— Esse negócio de namoro a distância é muito estressante. Ele me liga, tipo, o tempo todo. Eu só fui embora a uns poucos dias e ele já me mandou duas cartas!
— Hum — respondeu Emily, deixando a água turva escorrer por entre os dedos. Depois, algo lhe ocorreu. Ela se virou para Maya.
— Será que você, hum, colocou um bilhete no meu armário ontem?
Maya franziu a testa.
— O quê, depois da escola? Não... você me levou em casa, lembra?
— Tá certo. — Ela não achava mesmo que Maya tivesse escrito aquele bilhete, mas as coisas seriam muito mais fáceis se tivesse sido ela.
— O que o bilhete dizia?
Emily balançou a cabeça.
— Deixa pra lá. Não era nada. — Ela limpou a garganta. —Sabe, acho que talvez eu termine com o meu namorado também.
Uau. Emily não ficaria mais surpresa nem se um passarinho azul saísse voando de sua boca.
— É mesmo? — Maya quis saber.
Emily piscou para tirar a água dos olhos.
— Não sei. Talvez.
Maya alongou os braços acima da cabeça e Emily pôde ver a cicatriz no pulso dela mais uma vez. Ela olhou para o outro lado.
— Bem, ligue o foda-se.
Emily sorriu.
— Como é?
— É só uma coisa que eu digo às vezes — explicou Maya. —Quer dizer... dane-se! — Ela se virou e deu de ombros. — Acho que é meio bobo.
— Não, eu gostei — disse Emily — Ligar o foda-se. — Ela riu. Emily sempre se sentia estranha quando falava palavrão, como se a mãe pudesse ouvi-la lá da cozinha de sua casa, a dezesseis quilômetros de distância.
— Você deve mesmo romper com seu namorado — disse Maya. — Sabe por quê?
— Por quê?
— Porque isso significaria que ambas estaríamos solteiras.
— E o que isso significa? — Emily quis saber. A floresta estava calma e quieta.
Maya se aproximou.
— Isso significa que... nós... podemos... nos divertir! — Ela pegou Emily pelos ombros e a afundou.
— Ei! — gritou Emily. Ela jogou água em Maya, fazendo seu braço inteiro correr pela água, criando uma onda enorme. Depois, ela agarrou Maya pela perna e começou a fazer cócegas em seus dedos.
— Socorro! — gritou Maya. — No pé não! Eu sinto muitas cócegas!
— Encontrei seu ponto fraco! — Emily comemorou, arrastando Maya para a queda d'água como uma maníaca. Maya conseguiu puxar o pé e soltá-lo e atacou os ombros de Emily por trás. As mãos de Maya deslizaram pelos lados do corpo de Emily, depois para seu estômago, onde começou a fazer cócegas nela. Emily gritou. Por fim, ela empurrou Maya para uma pequena caverna nas pedras.
— Espero que não haja morcegos aqui — gritou Maya. Ela ergueu a mão. Raios de sol entravam através de pequenas aberturas na caverna, fazendo um halo em volta da cabeça molhada de Maya. —Você tem que entrar aqui. — Maya pegou a mão de Emily.
Emily ficou perto dela, sentindo as paredes lisas da caverna. O som de sua respiração ecoava pelas paredes estreitas. Elas olharam uma para a outra e sorriram.
Emily mordeu os lábios. Aquele era um momento de amizade tão perfeito que a fez sentir-se melancólica e nostálgica.
Maya baixou os olhos, concentrada.
— O que foi?
Emily respirou fundo.
— Bem... sabe aquela garota que morava na sua casa? Alison?
—Sei.
— Ela desapareceu. Logo depois do sétimo ano. E nunca mais foi encontrada.
Maya estremeceu de leve.
— Ouvi falar alguma coisa sobre isso.
Emily abraçou a si mesma. Estava ficando com frio também.
— Nós éramos muito próximas.
Maya chegou mais perto de Emily e passou um dos braços em volta dela.
— Eu não sabia.
— É. — O queixo de Emily tremia. — Eu só queria que você soubesse.
— Obrigada.
Um tempo longo passou; Emily e Maya continuaram abraçadas. Depois, Maya recuou.
— Eu meio que menti mais cedo. Sobre querer romper com Justin.
Emily ergueu as sobrancelhas, curiosa.
— Eu... eu não tenho muita certeza se gosto de meninos —disse Maya, baixinho. — É estranho. Eu acho que eles são bonitinhos, mas quando fico sozinha com eles, não quero estar com eles. Eu prefiro estar, bem, com alguém mais parecido comigo. — Ela sorriu meio torto. —Você entende?
Emily passou a mão pelo rosto e pelo cabelo dela. De repente, o olhar de Maya, parecia próximo demais.
— Eu... — ela começou. Não, ela não entendia.
Os arbustos acima delas se moveram. Emily hesitou. Sua mãe costumava detestar quando ela vinha para essa trilha — você nunca sabia que tipo de sequestradores ou assassinos se escondiam em lugares como aquele. As árvores ficaram quietas por um instante, mas então uma revoada de pássaros dispersou-se no céu. Emily se achatou contra as pedras. Será que alguém as estava, observando? De quem era aquela risada? O riso parecia familiar. E então Emily ouviu uma respiração pesada. Sentiu um arrepio nos braços e espiou o que estava acontecendo fora da caverna.
Era só um grupo de meninos. De repente, eles invadiram o riacho, empunhando galhos como se fossem espadas. Emily se afastou de Maya e da queda d'água.
— Onde você está indo? — chamou Maya.
Emily olhou para Maya e depois para os garotos, que tinham abandonado os galhos e agora estavam jogando pedras uns nos outros. Um deles era Mike Montgomery, o irmão mais novo de sua antiga amiga, Aria. Ele havia crescido um pouco desde a última vez que o vira. E, espera aí — Mike estudava em Rosewood. Será que ele conseguiria reconhecê-la? Emily saiu da água e correu encosta acima.
Ela se virou para Maya.
— Tenho que voltar para a escola antes que o treino de natação de Carolyn acabe. — Ela pegou sua saia. — Quer que eu jogue suas roupas aí pra abaixo?
— Tanto faz. — Então, Maya ficou de pé e andou com certa dificuldade pela água, a calcinha fininha grudada no traseiro. Maya subiu devagar pela encosta, sem cobrir a barriga ou os seios com as mãos nenhuma vez. Os calouros pararam o que estavam fazendo para encará-la.
E apesar de não querer, Emily também olhava para ela.