Capítulo 10 - Garotas solteiras se divertem muito mais

25-02-2012 19:57

 

Naquela tarde, Emily estava parada no estacionamento dos estudantes, perdida em seus pensamentos, quando alguém colocou as mãos sobre seus olhos. Emily deu um pulo, alerta.

— Opa, calma! Sou eu!

Emily se virou e suspirou de alívio. Era apenas Maya. Emily estava muito distraída e paranoica desde o dia anterior, quando recebera aquele recado esquisito. Ela ia trancar o carro — sua mãe deixara que ela e Carolyn o pegassem para ir à escola, com as condições de dirigir com muito cuidado e ligar quando chegassem — e pegar sua sacola de natação para o treino.

— Desculpe — disse Emily —, eu pensei que... ah, esquece.

— Senti sua falta hoje — Maya sorriu.

— Eu também — Emily sorriu de volta. Ela havia tentado ligar para Maya naquela manhã antes da escola, para oferecer uma carona, mas a mãe de Maya informou que ela já tinha saído.

— Então, como é que você está?

— Bem, eu poderia estar melhor. — Naquele dia Maya tinha deixado seu rosto livre, prendendo o cabelo escuro com adoráveis fivelas em formato de borboletas cor-de-rosa brilhantes

— Ah, é? — Emily inclinou a cabeça.

Maya apertou os lábios e deslizou um dos pés para fora da sandália Oakley. Seu segundo dedo do pé era maior que seu dedão, assim como o de Emily.

— Eu vou ficar melhor se você vier comigo para um lugar. Agora.

— Mas eu tenho natação — retrucou Emily, sabendo que soara como o Bisonho mais uma vez.

Maya pegou a mão de Emily e a balançou.

— E se eu contasse a você que o lugar para onde vamos meio que tem a ver com natação?

Emily franziu a testa.

— Como assim?

—Você tem que confiar em mim.

Apesar de ter sido bem próxima de Hanna, Spencer e Aria, as melhores lembranças de Emily eram de estar sozinha com Ali. Como quando vestiram enormes calças de neve para des-lizar de trenó pelo Bayberry Hill, conversaram sobre como seriam seus namorados ideais ou choraram por causa da Coisa com Jenna no sexto ano e consolaram uma à outra. Quando estavam só elas duas, Emily via uma Ali um pouquinho menos perfeita — o que, de alguma forma a fazia parecer ainda mais perfeita — e Emily sentia que podia ser ela mesma. Parecia que dias, semanas, anos haviam se passado desde que Emily pudera ser ela mesma pela última vez. E ela achava que, agora, poderia ter alguma coisa como aquela com Maya. Ela sentia falta de ter uma melhor amiga.

Nesse momento, Ben e todos os outros garotos provavelmente estavam trocando de roupa, batendo nas bundas uns dos outros com toalhas molhadas. A treinadora Lauren estaria anotando os exercícios do treino em sua lousa e trazendo as nadadeiras, boias e remos. E as meninas da equipe estariam reclamando que todas ficavam menstruadas ao mesmo tempo. Ela ousaria perder o segundo dia de treino?

Emily apertou seu chaveiro de peixinho na mão.

— Acho que posso dizer a Carolyn que tenho que dar aula particular de espanhol para alguém — murmurou. Emily sabia que Carolyn não acreditaria nisso, mas ela provavelmente também não a delataria.

Verificando mais de uma vez o estacionamento para ter certeza de que ninguém estava olhando, Emily sorriu e destrancou o carro.

— Tudo bem. Vamos lá.

— Meu irmão e eu demos uma olhada nesse lugar no final de semana — explicou Maya enquanto Emily dirigia para dentro do estacionamento de cascalho.

Emily saiu do carro e se alongou.

— Eu tinha me esquecido desse lugar.

Elas estavam na trilha de Marwyn, que tinha uns oito quilômetros de comprimento e era margeada por um riacho profundo. Ela e suas amigas costumavam andar de bicicleta por ali o tempo todo — Ali e Spencer pedalavam furiosamente até o final da trilha e quase sempre empatavam— e davam uma parada na pequena lanchonete perto da área onde era permitido nadar para comer chocolates Butterfingers com Cocas Diet.

Elas seguiram até um monte lamacento e Maya agarrou o braço de Emily:

—Ah! Esqueci de contar. Minha mãe disse que sua mãe deu uma passada lá ontem enquanto estávamos na escola e levou brownies.

— É mesmo? — respondeu Emily, confusa, perguntando-se por que sua mãe não mencionara nada para ela durante o jantar.

— Os brownies estavam deliciosos. Meu irmão e eu acabamos com eles ontem à noite!

Elas chegaram à trilha de terra cercada por uma enorme quantidade de carvalhos. O ar tinha um cheiro fresco e selvagem, e parecia uns cinco graus menos quente por ali.

— Nós ainda não chegamos. — Maya a pegou pela mão e a levou por um caminho que dava numa pequena ponte de pedra. Seis metros abaixo delas, a correnteza se alargava. A água tranquila brilhava ao sol do final da tarde.

Maya andou até a beirada da ponte e tirou a roupa, até ficar só de sutiã e com sua calcinha rosa-bebê. Ela fez uma pilha com suas roupas, mostrou a língua para Emily e pulou.

— Espere! — Emily correu até a beira da ponte. Será que Maya sabia como o riacho era fundo? Dois segundos depois, Emily ouviu um splash.

A cabeça de Maya apareceu, saindo de dentro d'água.

— Eu disse que tinha a ver com natação. Vai, tira a roupa!

Emily deu uma olhada para a pilha de roupas de Maya. Ela realmente detestava tirar a roupa na frente dos outros — mesmo na frente das meninas da equipe de natação, que a viam todos os dias. Devagarinho, ela tirou a saia de Rosewood, cruzando as pernas uma sobre a outra para que Maya não pudesse ver suas coxas musculosas e depois puxou a camiseta que usava debaixo da blusa do uniforme, mas decidiu ficar com ela. Emily olhou para além da beirada da ponte, criou coragem e pulou. Pouco depois, a água envolveu seu corpo. Estava deliciosamente morna e espessa por causa da lama, não fria e limpa como a da piscina. Seu sutiã inflou por causa da água.

— É como se fosse um banho termal — disse Maya.

— É mesmo. — Emily chapinhou até a parte mais rasa, onde Maya estava. Emily se deu conta que conseguia ver os bicos dos seios de Maya através do seu sutiã e desviou os olhos.

— Eu costumava mergulhar de penhascos com Justin o tempo todo quando estávamos na Califórnia — contou Maya. — Ele costumava ficar parado na beirada e, tipo, pensar sobre o pulo por uns dez minutos. Gostei de como você não hesitou nem por um segundo.

Emily ficou de costas e boiou, sorrindo. Ela não podia evitar: achou os elogios de Maya deliciosos como um cheesecake.

Maya respingou água em Emily com as mãos. Alguns respingos atingiram sua boca. A água do riacho era pegajosa e tinha um gosto quase metálico, nada parecido com a água cheia de cloro da piscina.

— Acho que Justin e eu vamos terminar — disse Maya.

Emily nadou para mais perto da beira e parou.

— É mesmo? Por quê?

— Esse negócio de namoro a distância é muito estressante. Ele me liga, tipo, o tempo todo. Eu só fui embora a uns poucos dias e ele já me mandou duas cartas!

— Hum — respondeu Emily, deixando a água turva escorrer por entre os dedos. Depois, algo lhe ocorreu. Ela se virou para Maya.

— Será que você, hum, colocou um bilhete no meu armário ontem?

Maya franziu a testa.

— O quê, depois da escola? Não... você me levou em casa, lembra?

— Tá certo. — Ela não achava mesmo que Maya tivesse escrito aquele bilhete, mas as coisas seriam muito mais fáceis se tivesse sido ela.

— O que o bilhete dizia?

Emily balançou a cabeça.

— Deixa pra lá. Não era nada. — Ela limpou a garganta. —Sabe, acho que talvez eu termine com o meu namorado também.

Uau. Emily não ficaria mais surpresa nem se um passarinho azul saísse voando de sua boca.

— É mesmo? — Maya quis saber.

Emily piscou para tirar a água dos olhos.

— Não sei. Talvez.

Maya alongou os braços acima da cabeça e Emily pôde ver a cicatriz no pulso dela mais uma vez. Ela olhou para o outro lado.

— Bem, ligue o foda-se.

Emily sorriu.

— Como é?

— É só uma coisa que eu digo às vezes — explicou Maya. —Quer dizer... dane-se! — Ela se virou e deu de ombros. — Acho que é meio bobo.

— Não, eu gostei — disse Emily — Ligar o foda-se. — Ela riu. Emily sempre se sentia estranha quando falava palavrão, como se a mãe pudesse ouvi-la lá da cozinha de sua casa, a dezesseis quilômetros de distância.

— Você deve mesmo romper com seu namorado — disse Maya. — Sabe por quê?

— Por quê?

— Porque isso significaria que ambas estaríamos solteiras.

— E o que isso significa? — Emily quis saber. A floresta estava calma e quieta.

Maya se aproximou.

— Isso significa que... nós... podemos... nos divertir! — Ela pegou Emily pelos ombros e a afundou.

— Ei! — gritou Emily. Ela jogou água em Maya, fazendo seu braço inteiro correr pela água, criando uma onda enorme. Depois, ela agarrou Maya pela perna e começou a fazer cócegas em seus dedos.

— Socorro! — gritou Maya. — No pé não! Eu sinto muitas cócegas!

— Encontrei seu ponto fraco! — Emily comemorou, arrastando Maya para a queda d'água como uma maníaca. Maya conseguiu puxar o pé e soltá-lo e atacou os ombros de Emily por trás. As mãos de Maya deslizaram pelos lados do corpo de Emily, depois para seu estômago, onde começou a fazer cócegas nela. Emily gritou. Por fim, ela empurrou Maya para uma pequena caverna nas pedras.

— Espero que não haja morcegos aqui — gritou Maya. Ela ergueu a mão. Raios de sol entravam através de pequenas aberturas na caverna, fazendo um halo em volta da cabeça molhada de Maya. —Você tem que entrar aqui. — Maya pegou a mão de Emily.

Emily ficou perto dela, sentindo as paredes lisas da caverna. O som de sua respiração ecoava pelas paredes estreitas. Elas olharam uma para a outra e sorriram.

Emily mordeu os lábios. Aquele era um momento de amizade tão perfeito que a fez sentir-se melancólica e nostálgica.

Maya baixou os olhos, concentrada.

— O que foi?

Emily respirou fundo.

— Bem... sabe aquela garota que morava na sua casa? Alison?

—Sei.

— Ela desapareceu. Logo depois do sétimo ano. E nunca mais foi encontrada.

Maya estremeceu de leve.

— Ouvi falar alguma coisa sobre isso.

Emily abraçou a si mesma. Estava ficando com frio também.

— Nós éramos muito próximas.

Maya chegou mais perto de Emily e passou um dos braços em volta dela.

— Eu não sabia.

— É. — O queixo de Emily tremia. — Eu só queria que você soubesse.

— Obrigada.

Um tempo longo passou; Emily e Maya continuaram abraçadas. Depois, Maya recuou.

— Eu meio que menti mais cedo. Sobre querer romper com Justin.

Emily ergueu as sobrancelhas, curiosa.

— Eu... eu não tenho muita certeza se gosto de meninos —disse Maya, baixinho. — É estranho. Eu acho que eles são bonitinhos, mas quando fico sozinha com eles, não quero estar com eles. Eu prefiro estar, bem, com alguém mais parecido comigo. — Ela sorriu meio torto. —Você entende?

Emily passou a mão pelo rosto e pelo cabelo dela. De repente, o olhar de Maya, parecia próximo demais.

— Eu... — ela começou. Não, ela não entendia.

Os arbustos acima delas se moveram. Emily hesitou. Sua mãe costumava detestar quando ela vinha para essa trilha — você nunca sabia que tipo de sequestradores ou assassinos se escondiam em lugares como aquele. As árvores ficaram quietas por um instante, mas então uma revoada de pássaros dispersou-se no céu. Emily se achatou contra as pedras. Será que alguém as estava, observando? De quem era aquela risada? O riso parecia familiar. E então Emily ouviu uma respiração pesada. Sentiu um arrepio nos braços e espiou o que estava acontecendo fora da caverna.

Era só um grupo de meninos. De repente, eles invadiram o riacho, empunhando galhos como se fossem espadas. Emily se afastou de Maya e da queda d'água.

— Onde você está indo? — chamou Maya.

Emily olhou para Maya e depois para os garotos, que tinham abandonado os galhos e agora estavam jogando pedras uns nos outros. Um deles era Mike Montgomery, o irmão mais novo de sua antiga amiga, Aria. Ele havia crescido um pouco desde a última vez que o vira. E, espera aí — Mike estudava em Rosewood. Será que ele conseguiria reconhecê-la? Emily saiu da água e correu encosta acima.

Ela se virou para Maya.

— Tenho que voltar para a escola antes que o treino de natação de Carolyn acabe. — Ela pegou sua saia. — Quer que eu jogue suas roupas aí pra abaixo?

— Tanto faz. — Então, Maya ficou de pé e andou com certa dificuldade pela água, a calcinha fininha grudada no traseiro. Maya subiu devagar pela encosta, sem cobrir a barriga ou os seios com as mãos nenhuma vez. Os calouros pararam o que estavam fazendo para encará-la.

E apesar de não querer, Emily também olhava para ela.