Capítulo 15 - Insultar a masculinidade dele é mesmo muito brochante

26-02-2012 09:00

 

—Vocês garotos estão muito preguiçosos.Vocês conseguem mais do que isso! — a técnica Lauren gritou com eles da beira da piscina.

Na quinta-feira à tarde, Emily dividia com outros nadadores a água azul cristalina do Rosewood's Anderson Memorial Natatorium, enquanto a incrivelmente jovem ex-treinadora de atletas olímpicos, Lauren Kinkaid, gritava com eles. A piscina tinha mais de dezoito metros de largura, mais de quarenta e cinco de comprimento e um trampolim baixo. Um enorme janelão acompanhava toda a extensão da piscina, então quando se treinava nado costas durante a noite, dava para olhar as estrelas.

Emily se apoiou na borda e puxou a touca de natação para cima das orelhas. Melhor desempenho, tudo bem. Ela precisava mesmo se concentrar naquele dia.

Na noite anterior, depois de voltar do riacho com Maya, ela ficou um tempão deitada na cama, alternando uma sensação de calor no peito e alegria por toda a diversão que Maya e ela tiveram... com um certo incômodo e ansiedade sobre a confissão da nova amiga. Eu não tenho muita certeza se gosto de meninos... Eu prefiro estar, bem, com alguém mais parecido comigo. Será que Maya quisera dizer o que Emily achava que ela quisera dizer?

Pensando sobre como Maya havia sido impulsiva na cachoeira — sem mencionar que elas haviam feito cócegas uma na outra e se tocado —, Emily se sentiu nervosa. Depois de chegar em casa naquela noite, ela procurou em sua bolsa da natação pelo bilhete de A, que recebera no dia anterior. Ela leu de novo e de novo e de novo, palavrinha por palavrinha até seus olhos ficarem embaçados.

Na hora do jantar, Emily decidiu que precisava voltar para a piscina. Nada mais de fugidinhas. Negligência nunca mais. Dali em diante, ela seria um modelo de nadadora.

Ben foi batendo os braços até ela e apoiou uma das mãos na borda da piscina.

— Senti sua falta ontem.

— Hummmm. — Ela deveria tentar um novo começo com Ben, também. Com suas sardas, seus olhos azuis penetrantes, seu rosto não barbeado e o belo corpo esculpido pela natação, ele era um tesão, certo? Ela tentou imaginar Ben pulando da ponte da trilha Mawyn. Será que ele ia rir, ou pensaria que aquilo era coisa de criança?

— Então, aonde você foi? — perguntou Ben, baforando em seus óculos de natação para desembaçá-los.

— Fui dar aula particular de espanhol.

— Quer vir à minha casa depois do treino? Meus pais só chegam às oito horas.

— Eu... eu não sei se posso. — Emily se afastou da borda da piscina e começou a bater os pés na água. Ela ficou olhando para baixo, vendo o turbilhão que seus pés e suas pernas gera-vam na água.

— Por que não? — Ben se afastou da borda para acompanhá-la.

— Porque... — Ela não conseguia inventar uma desculpa.

—Você sabe que quer ir — sussurrou Ben. — Ele começou a espirrar água nela com a mão. Maya havia feito a mesma coisa no dia anterior, mas dessa vez Emily não estava a fim de brincadeira.

Ben parou de jogar água nela.

— O que foi?

— Pare.

Ben colocou as mãos em volta da cintura dela.

— Não? Você não gosta quando eu jogo água em você? — perguntou ele, fazendo manha.

Ela tirou as mãos dele de cima dela.

— Pare.

Ele recuou.

— Tudo bem.

Bufando, ela foi para outra raia da piscina. Ela gostava de Ben, gostava mesmo. Talvez devesse ir à casa dele depois da natação. Eles assistiriam aos episódios gravados de American Chopper, comeriam pizza para viagem do DiSilvio's e ele, disfarçadamente, passaria a mão no sutiã esportivo e nada sexy dela. De repente ela ficou com lágrimas nos olhos. Ela realmente não queria sentar no colchão piniquento do porão de Ben, tirando pedacinhos de orégano dos dentes e enfiando sua língua dentro da boca dele. Simplesmente não queria.

Ela não era o tipo de garota que conseguia fingir. Mas isso significava que queria terminar com ele? Era difícil tomar uma decisão sobre um garoto quando ele estava bem na raia ao lado, a pouco mais de um metro.

A irmã dela, Carolyn, que estava treinando na raia ao lado, bateu em seu ombro.

— Tudo bem?

— Tudo — murmurou Emily, pegando uma prancha de natação azul.

— Então tá. — Carolyn olhou para ela como se quisesse dizer mais alguma coisa. Depois do passeio ao riacho com Maya no dia anterior, Emily tinha embicado o Volvo no estacionamento bem na hora em que Carolyn saía pelas portas duplas do ginásio de natação. Quando Carolyn perguntou por onde ela tinha andado, ela respondeu que estivera dando aulas de espanhol. Pareceu que Carolyn acreditara nela, apesar do cabelo de Emily estar úmido e do barulho esquisito que o carro estava fazendo — coisa que ele só fazia quando esfriava, após ter rodado muitos quilômetros.

Apesar de as irmãs serem fisicamente parecidas — as duas tinham sardas no nariz, cabelos avermelhados manchados de cloro e precisavam passar um montão de rímel Maybelline para alongar os cílios — e de dividirem o mesmo quarto, elas não eram Íntimas. Carolyn era uma garota quieta, recatada e obediente e, apesar de Emily também ser, Carolyn parecia realmente feliz assim.

A treinadora soprou o apito.

—Vamos pegar as pranchas! Formem uma fileira!

Os nadadores se alinharam dos mais rápidos aos mais lentos com pranchas na frente deles. Ben estava na frente de Emily. Ele olhou para ela e ergueu uma das sobrancelhas.

— Eu não posso ir para sua casa essa noite — disse ela baixinho, para que os outros meninos, que estavam por ali, rindo do bronzeado falso de Gemma Currant que dera muito errado, não pudessem ouvir. — Desculpe.

A boca de Ben era uma linha fina em seu rosto.

— Ah, tá. Como se isso fosse uma surpresa.

Depois, quando Lauren soprou o apito, ele tomou impulso na parede da piscina e começou a bater as pernas. Sentindo-se desconfortável, Emily esperou até que Lauren apitasse de novo e começou a nadar atrás dele.

Enquanto nadava, Emily olhou para as pernas de Ben que se agitavam na água. Era tão ridículo como ele usava a touca de natação cobrindo seus cabelos que já eram bem curtos. Ele ficava tão obssessivo-complusivo antes das disputas que raspava todos os pelos do corpo, inclusive os das pernas e dos braços. Agora, seus pés batiam com força exagerada, jogando água no rosto de Emily. Ela deu uma olhada para sua cabeça que subia e descia à frente e bateu as pernas com mais força.

Apesar de ter largado cinco segundos depois de Ben, Emily alcançou a outra borda quase ao mesmo instante que ele. Ele se virou para ela, superbravo. As regras de boa educação da equipe ditavam que não importava se você era uma estrela da natação, se alguém o alcançasse, você o deixaria começar antes de você. Mas Ben pura e simplesmente tomou impulso na parede e continuou.

— Ben! — gritou Emily. Dava para sentir a raiva em sua voz.

Ele parou na parte rasa da piscina e se virou.

— O que foi?

— Me deixa ir na sua frente.

Ben revirou os olhos e se enfiou embaixo d'água.

Emily tomou impulso e bateu as pernas feito uma louca até alcançá-lo. Ele chegou até a borda e virou-se para ela.

— Dá pra você sair do meu pé? — Ele estava quase gritando.

Emily caiu na gargalhada.

—Você devia me deixar passar!

—Talvez se você não tivesse saído encostada em mim, você não estivesse tão encostada em mim.

Ela bufou.

— Não posso fazer nada se sou mais rápida que você.

O queixo de Ben caiu. Ooops.

Emily umedeceu os lábios.

—Ben...

— Não. — Ele ergueu as mãos. — Continue nadando bem rápido, tá bem?

Ele jogou os óculos para fora da piscina. Eles quicaram de um jeito estranho e caíram de volta na piscina, errando por milímetros o ombro com bronzeado falso de Gemma.

—Ben...

Ele olhou para ela, então lhe deu as costas e saiu da piscina.

— Dane-se.

Emily o viu abrir a porta do vestiário dos meninos com raiva.

Ela sacudiu a cabeça, olhando enquanto a porta ia para a frente e para trás devagarinho. Depois, ela se lembrou do que Maya dissera no dia anterior.

—Vou ligar o foda-se — disse ela baixinho. E sorriu.